Estou só, só não estou…

Eu sempre penso muito em longas viagens de ônibus.
Talvez esse hábito tenha começado quando aos meus 23, atravessamos o leste europeu numa viagem de mais de 30 horas. Boas memórias, fomos da Albânia até Moldávia. Interminável paisagens e tempo, muito tempo. Hoje alguns anos depois, o hábito talvez tenha ficado.

Volto de Goiás mais uma vez. O ônibus escuro, viagem à noite e o silêncio só é quebrado pelas músicas tocando no meu fone. E quase parece ser mais uma oportunidade de recomeços. Recomeços de rotinas, processos, reflexões, regras do meu dia a dia. Recomeços da minha vida em São Paulo.

Minha volta para Goiás foi bem de repente, menos de um mês eu fui embora e voltei de novo, e a viagem de volta, dessa vez sozinha, me lembra que volto para uma casa solitária. Só de uma pessoa. E que vou precisar encarar de novo essa realidade. Morar sozinha em São Paulo no meio da pandemia, parece que tem me custado mais do que eu percebi. E sim, quando volto pra casa preciso me acostumar de novo com um barulho único, só o meu. Só eu.

Por um lado quando lembro disso o nó na garganta aperta. Pode ser porque estou ouvindo sleeping at last, e esse cara sabe fazer a gente se emocionar, mas pode ser porque também é difícil viver só.
Pra mim é difícil pelo menos. Tem dias ótimos, claro, dias que eu posso fazer o que eu quiser, e não tenho que consultar nada nem ninguém e nem me preocupar com coisa alguma. Mas também tem muitos momentos complexos, onde a angústia aperta. Onde por vezes o medo assombra.

E sim eu preciso me lembrar que não estou sozinha, nunca estou sozinha, mas às vezes é difícil ter uma consciência completa e clara sobre isso.
Eu queria que fosse mais fácil pra mim. Mas não é. Ao mesmo tempo sei que fui chamada e continuo a ser chamada para morar só agora.
Então só eu fico, mas só não estou.
Confuso. Confuso talvez,
Mas meu presente hoje.

Complexo como a casca do eucalipto de Anápolis- Outubro 2021